A pesquisa faz parte da rotina desses alunos
Basta entrar no saguão do bloco 18 da Unisc para compreender qual curso tem aulas ali. Os alunos do Direito, em geral bem vestidos e usando termos jurídicos em suas conversas, podem ser muito diferentes dos despojados acadêmicos de Comunicação Social. No entanto, durante o XVII Seminário de Iniciação Científica e II Salão de Ensino e Extensão , ficou claro que eles têm muito mais em comum do que parece. Cynthia Juruena, Adam Hasselman, Augusto Rostirola e Fernanda Brandt são pesquisadores do Direito da Unisc. Joel Haas e Andréia Bueno fazem Comunicação Social. A semelhança entre eles é a paixão pela pesquisa.
Joel Haas se interessa por pesquisa desde o Ensino Médio. Incentivado pelo irmão, que também trabalhou nesse ramo durante a graduação. Ele faz parte do grupo 'A narração jornalística em sua intersecção com a literatura'. Já sua colega de pesquisa, Andréia Bueno, sentia-se instigada a participar mais da vida acadêmica e, ao ver trabalhos apresentados no Encontro Gaúcho de Ensino de Jornalismo, percebeu que a pesquisa poderia ser uma alternativa. “Comecei por curiosidade e me dei conta de que isso tudo não era um monstro”, diz.
A importância do assunto foi determinante para Adam Hasselman, que se dedicou a estudar direitos autorais: “Senti uma inclinação muito forte a participar, dada à importância do assunto para a sociedade e, também, para a minha formação enquanto cidadão”. Contudo, o interesse pela pesquisa e a motivação não são o bastante para que os alunos participem dos grupos de pesquisa. “É preciso dispor de tempo para a produção, bem como para viajar a fim de apresentar a maioria dos trabalhos”, salienta Augusto Rostirola. Fernanda Brandt concorda: “Conciliar os encontros, a elaboração dos artigos e pesquisas com o trabalho profissional é a grande dificuldade”.
Joel sentiu na pele a dificuldade de conciliar trabalho e pesquisa. Apesar da vontade de participar, ele só pode se dedicar à área quando trocou de emprego. Resultado: o grupo já estava formado há seis meses e o acadêmico demorou para se inserir nos assuntos. “No início eu participava menos e observava os processos. Hoje, tenho mais desenvoltura para contribuir com as discussões, e isso é muito gratificante”, complementa.
Tanto esforço tem suas recompensas. O grupo de pesquisa foi essencial para que Cynthia Juruena decidisse o assunto de seu trabalho de conclusão. “O estudo sobre o período do regime militar e os documentos secretos e ultrassecretos aos quais não se tem acesso, fez com que ideias para a escolha do tema da monografia surgissem”, revela a estudante que sonha fazer mestrado na Alemanha. Esse é um ponto em comum com os acadêmicos da Comunicação. Andréia e Joel também pensam em continuar os estudos após concluir a graduação.
DESINTERESSE
Apesar das oportunidades dadas pela universidade, a procura pelos grupos de pesquisa ainda é baixa, na visão dos estudantes de Direito. No grupo em que Cynthia está inserida, por exemplo, há muito mais mestrandos do que alunos da graduação. Augusto complementa: “A maioria dos alunos não conhece a existência dos grupos, nem mesmo sabe como funcionam”. Adam, que se formou em direito no ano passado, acredita que os estudantes que estão terminando o curso são os mais participativos.
O desinteresse também está presente no curso de Comunicação Social. Joel afirma que, além da dificuldade em conciliar as rotinas de aulas, trabalho e pesquisa, outro fator determinante é o baixo número de projetos na área da comunicação. “Muitos desistem de tentar se inserir em projetos que não sejam da área. O mercado de trabalho, cada vez mais, procura profissionais que tenham facilidade em trabalhar de maneira multidisciplinar”. Segundo Andréia, existe ainda certo preconceito no que diz respeito a essa prática: “Nossos colegas pensam que pesquisa é chato. Sequer se interessam em saber as conclusões às quais estamos chegando”, lamenta.
Aqueles que se dedicam à pesquisa possuem dificuldades e motivações semelhantes. Não importa o curso. Quando questionados se vale a pena fazer parte de um grupo desses, a resposta dos alunos de Comunicação Social e Direito é afirmativa. “É gratificante perceber a evolução e o desenvolvimento pessoal nesses trabalhos”, complementa Joel. Quem tiver interesse em participar de grupos de pesquisa do seu curso, deve procurar a coordenação para saber como funciona.
Reportagem: Ana Cláudia Müller
Revisão: Cristiane Lautert